A vida, os amores, e o mistério que ainda envolve os últimos dias antes da sua morte.
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Irreverente, ousada e sonhadora, abriu horizontes que justamente a colocaram num patamar de excelência no universo das artes e das letras. O seu legado representa um novo ciclo a nível literário, a partir de uma perspetiva feminina.
Foi autora de uma obra de referência e também uma das primeiras feministas de Portugal, posição decorrente do seu papel na defesa da mulher e dos seus direitos. A sua poesia tem um estilo peculiar, aliando sofrimento e desencanto, ao desejo de ser feliz e continua, nas sociedades atuais, a ser uma referência e fonte de inspiração.
Largamente valorizada do ponto de vista académico e esquecida pelo exacerbado conservadorismo duma sociedade que não a entendeu, foi precursora de uma moderna poesia, que a tornou lendária.
De modo singular e excecional, Florbela floresceu na poesia. Atingiu o auge da sua grandeza ao compor versos, muitas vezes através do magnífico e clássico soneto.
O amor foi sentimento que mais a transtornou, ao mesmo tempo que lhe deu toda a inspiração, com marcantes pinceladas de solidão, melancolia, sedução, tentação, desejo, morte, saudade, como se uma pintura se tratasse.
Os sentimentos estiveram sempre presentes. A sua escrita revela o afeto por si, pelos seus e pelos recantos que habitaram no seu coração, com especial destaque para o seu Alentejo, sempre presente na sua vasta obra.
Embora a sua vida tenha sido tão breve, Florbela soube, como ninguém, transformar as suas inquietações e os seus sofrimentos numa obra sublime, singular e excecional, que nos leva ao lugar mais profundo da nosso essência enquanto seres humanos, onde as suas palavras nos fazem encarar no espelho da alma, a dor, o receio, a ânsia, o sofrimento, mas também a perceção força incontrolável do amor, contra todos os tabus e normas instituídas. Foi assim que o encarou, sempre, despida de todos os preconceitos.
Autoria – Tiago Salgueiro